sexta-feira, 8 de julho de 2022

A inauguração da ambulância

julho 08, 2022 0 Comments

A inauguração da ambulância - Por Márcia Mascarenhas
 
Fui chegando na venda de Seu Mendonça e me deparando com o inusitado. De lá dava para ver o rebú que ocorria na praça do bairro. Os moradores estavam parados diante de um grande palco esperando a atração. O ocorrido - inauguração da ambulância. O carro estava repleto de holofotes; havia faixas dependuradas entre as árvores, exaltando o vereador Ribeira pelo tão grande feito. Conseguir um carro ambulatorial para o bairro era um acontecimento histórico. E como tal foi tratado. Ribeira contratou uma banda famosa para a festa; carros e carros de bebida eram descarregados, comida para dar aos montes. Era tanto dinheiro empregado na inauguração da ambulância que dava para comprar outro carro. Quando a banda começou a tocar, os corpos se tornaram um só – como formigas rodeando o pedaço de comida abandonada -  movidos pelo pancadão que saía das enormes caixas de som. Lá pelas tantas, Zé, tomado pela cachaça, resolve cutucar Corió, o matador do bairro. Eu, sentada em Seu Mendonça, só vi a multidão se movimentando como se tivessem colocado o dedo no formigueiro. Espalhou todo mundo. Era casco de cerveja voando de um lado, pedra e gritaria do outro. No fim, tinha mais gente precisando de atendimento médico do que romeiro em cima de Padre Cícero. O que se descobriu foi que em dia de festa, uma ambulância só não é suficiente.