quinta-feira, 2 de maio de 2019

(UCP) Mauricio Tragtenberg e a delinquência acadêmica


Mauricio Tragtenberg






Na obra, Mauricio Tragtenberg faz uma analise acerca do que vem sendo ao longo dos anos, o modelo implantado pelas universidades: não representa o social, ou seja, é elitizado; estabelece papéis de submissão na relação professor-aluno, possui um caráter classista e que, por meio de décadas vem reproduzindo uma ideologia dominante. Essa ideologia coloca o aluno em ato de subordinação, atuando apenas como aquele a receber o conhecimento e injetá-lo. Esse servilismo é considerado pelo autor como sendo um modelo de “burocracia pedagógica”, que vem moldando os estudantes para a busca do êxito e a aprovação, por meio do chamado “sistema de exames”.  É nesse sistema que os alunos vivem em função, pois dele depende a futura titulação. Isso leva, ao tema foco do texto, que é a chamada “delinquência acadêmica”: a procura descomedida por publicações, pontuações e pelo acumulo de títulos acadêmicos. 
Fazendo uma relação com a visão Kantiana, acerca dessa burocrática formação do alunado, pode-se dizer que esses jovens, vivem num processo de alternância de tutela, onde não mais tutelados pelos pais, estão sendo constantemente supervisionados acerca do que pensam, fazem e suas pretensões, pela comunidade que gere a academia.  Toda essa gama de tutoria no percurso acadêmico desse alunado acarretará na constante reprodução de conhecimento: sem um “movimento livre”, não pensarão por si próprios, o que vem a ferir a autonomia. 

No decorrer do texto, o autor vai dando pistas de qual seria a alternativa para uma educação não burocratizada. Ao citar Immanuel Kant em seus escritos, ele faz alusão a um de seus pensamentos acerca da aquisição do conhecimento. E essa aquisição se dá fora dos “grilhões" impostos pela universidade. O “ouse conhecer” kantiano, para o autor, só pode acontecer fora dos padrões institucionalizados pela academia. Pensar, apenas para reproduzir: é o que os modelos burocráticos vêm incutindo no alunado academicista. 
E, posta reflexão acerca da citação de Kant, a proposta do que vem a ser o “conhecer”, perpassa a concepção do acúmulo de assuntos aleatórios para a realização de exames, da necessidade de decorar para pontuar; e eleva esse conceito a uma conquista do conhecimento genuíno, advindo do uso do próprio entendimento, a ação de conceber o pensamento crítico sobre o conhecimento, e de fazê-lo com liberdade. Nesse ponto, cabe tratar da chamada pedagogia libertária proposta pelo autor, pois é através dela que o aluno alcança autonomia, a liberdade de crítica. Para isso acontecer, ele cita o modelo de autogestão pedagógica. Para Viana (2015): “Na autogestão não há o controle da atividade de um indivíduo por outro, como ocorre na alienação, e sim um controle do indivíduo por ele mesmo no interior de uma coletividade que se autogoverna.” Se caracteriza então, em um aprendizado fincado numa “motivação participativa” que se origina na total oposição a padronizada pedagogia burocrática instituída pelas universidades. 
Segundo Kant (1784): “Se eu tenho um livro que pensa por mim, um pastor que age como se fosse minha consciência, um físico que prescreve a minha dieta e assim sucessivamente, não tenho então necessidade de empenhar-me por conta própria”. Isso vem corroborar com o pensamento de Tragtenberg, na medida em que esse comportamento está sendo reforçado na academia nas relações professor-aluno, sem quaisquer incentivo a busca pelo processo libertário do entendimento. Nesse sentido a mediocridade acadêmica vem formando jovens para exercer cargos de responsabilidade pública, mas que assim não o sabem, por não ter vivido processos autônomos de tomada de decisão, nem experimentado o processo de pensar por si próprio. 
Para tanto, é preciso pensar em aplicar um modelo de pedagogia que foque em práticas libertadoras, solidárias, autônomas, coletivas e sociais. E para que seja efetiva, é necessário que se condene qualquer pensamento autoritário, intimidador e ditatorial.


Por: Márcia Mascarenhas
Docente: Gustavo Gonçalves


Ref. Bibliográfica:
A Delinquência Acadêmica
KANT. I, O que é esclarecimento?,1784.
VIANA. Nildo, Marxismo e Autogestão, ano 02, num. 03, jan./jun. 2015.
O que é o Esclarecimento - Autonomia em Kant: https://youtu.be/jgxQ1BNqSh4

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